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Os 5 fatores de bem-estar


Jim Harter, do Instituto Gallup: "Bem-estar não é apenas ser feliz"

Pesquisas pelo mundo sugerem que o olhar sobre a qualidade de vida deve ser amplo, envolver diversas dimensões do bem-estar humano, em busca de um bem-estar geral, relacionando fatores considerados interdependentes: saúde, finanças, relacionamentos, profissão e, acima de tudo, sentido e qualidade na lida com todos eles. Um dos maiores estudos globais sobre o tema, realizado pela consultoria norte-americana Gallup em mais de 150 países, incluindo o Brasil, é a principal fonte desse achado. O levantamento resultou em uma melhor conceituação do que é bem-estar, levando em conta o que transcende às culturas abordadas. O resultado da pesquisa foi publicado no livro O Fator Bem-estar: Os cinco elementos para uma vida pessoal e profissional de qualidade (Saraiva, 2011, por Jim Harter e Tom Rath), apontando para a existência de cinco elementos que, juntos e bem desenvolvidos, podem favorecer o bem-estar geral. São eles: bem-estar profissional (ou de propósito); bem-estar financeiro; bem-estar físico; bem-estar social e bem-estar na comunidade. "Ao contrário do que muitos acreditam, bem-estar não é apenas ser feliz", diz a publicação. "Também não é apenas ser rico ou bem-sucedido. E certamente não se limita à saúde e à boa condição física. Na verdade, concentrar-se em qualquer um desses elementos isoladamente poderia nos levar a sentimentos de frustração e até mesmo de fracasso", dizem os seus autores.

Uma atualização desse levantamento, publicada este ano, aponta para o fato de que apenas 17% da amostra prospera em três desses elementos ou mais, tendo nas Américas o índice mais alto de prosperidade. Fatores culturais favorecem as Américas, enquanto escolaridade e renda influenciam proporcionalmente os índices gerais de bem-estar em outras regiões. O elemento mais próspero, de maneira geral, segundo a pesquisa, é o bem-estar na comunidade. Em geral a área em que se obtém menos bem-estar é a profissional. Quem nos fala sobre como esses elementos têm sido abordados e sobre como incrementar a qualidade de vida é Jim Harter, doutor em estudos psicológicos e culturais em métodos qualitativos e quantitativos pela Universidade de Nebraska-Lincoln. Além de autor de O Fator Bem-estar, Harter é cientista-chefe de gestão e práticas de bem-estar no local de trabalho da Gallup. Realizou o primeiro estudo em grande escala em empresas para investigar as relações entre o envolvimento dos funcionários e os resultados do negócio. Atualizado periodicamente, esse estudo abrange atualmente 49 mil unidades de negócio em 49 setores e 34 países. Seu trabalho tem sido destaque em várias publicações de negócios, incluindo Harvard Business Review, The New York Times, The Wall Street Journal, TIME Magazine, dentre outros, entre artigos acadêmicos e capítulos de livros. Gostaria que o senhor explicasse como a informação pode aumentar a qualidade de vida.

Jim Harter - Em nossa pesquisa, assumimos um objetivo de estudar se existe um conjunto parcimonioso e consistente de elementos que ajudam as pessoas a melhorar suas vidas ao redor do mundo. Encontramos cinco desses elementos. Eles não explicam tudo, mas fornecem uma estrutura de organização às quais podemos ligar novas informações. A maioria das coisas na vida, que melhoram o nosso bem-estar, são parte de nossas carreiras (ou o nosso propósito geral), vida social, financeira, saúde física ou relações comunitárias. Quando uma investigação de qualidade é comunicada de uma forma que as pessoas possam compreendê-la e aplicá-la, ela cria consciência. Mas a consciência é apenas um componente para melhorar a qualidade de vida. As pessoas precisam ser capazes de acabar com a enorme quantidade de informações e chegar às coisas essenciais que podem facilmente se aplicar a suas vidas. Uma vez que as pessoas se conscientizem, contamos com padrões positivos e normas sociais para nos impulsionar à mudança e torná-la mais fácil para nós, para fazer o que é do nosso interesse e melhor, em longo prazo.


Considerando os cinco elementos para uma boa vida profissional e pessoal, o senhor não acha que a mídia, de certa forma, prioriza informações sobre alguns deles (ex.: bem-estar físico e bem-estar profissional) e esquece todos os outros (bem-estar na comunidade, por exemplo) nos quais o senhor e os achados da pesquisa colocam a mesma importância?

Talvez seja da natureza humana fixar-se excessivamente em um ou dois elementos. O que descobrimos é que uma visão holística dá às pessoas a melhor oportunidade para melhorar o seu bem-estar. Ou seja, a atenção míope para o bem-estar financeiro ou físico pode trabalhar contra o fim pretendido, sem considerar a forma como o ambiente de trabalho, a vida social e o bem-estar na comunidade interagem. Em um experimento, que deu às pessoas 100 pontos a serem atribuídos aos cinco elementos essenciais do bem-estar de acordo com a importância percebida em cada um, aqueles que apontaram um desequilíbrio em um ou mais elementos de bem-estar tiveram menor bem-estar real. Os que deram o mesmo peso para todos os cinco elementos tiveram o maior bem-estar real. Todos os cinco elementos são interdependentes e apoiam um ao outro. Então, quando estamos prosperando em vários elementos de bem-estar, nossas atividades diárias reforçam nossas melhores intenções para sermos mais saudáveis, termos uma carreira sólida, nos envolvermos com a comunidade e termos relacionamentos sólidos. Como medir o bem-estar, considerando seus aspectos subjetivos?

Por definição, o bem-estar é subjetivo. Ele representa o que nós pensamos e experimentamos em nossas vidas. A partir dessa perspectiva, sua medida fica muito diferente das medidas tradicionais, como estatísticas do PIB ou de saúde. Estatísticas tradicionais podem representar os resultados do passado, mas estatísticas de alta qualidade em bem-estar representam estados atuais que, então, podem se relacionar com comportamentos futuros. Na Gallup, passamos bastante tempo estudando quais perguntas e respostas cientificamente preveem se as pessoas terão uma vida melhor, em geral, e dias melhores. Por isso, fazemos perguntas que foram testadas ao longo do tempo, e aquelas que diferenciam as pessoas que têm vida próspera daquelas que estão lutando e sofrendo.


É possível envolver uma pessoa em uma vida baseada em bem-estar, se ela tem um conceito completamente distorcido de uma boa vida?

Cada pessoa é diferente, e por isso o ponto de partida para cada pessoa é baseado no momento em que ela está em sua vida. Se alguém está sofrendo devido à dor física ou vive em um lugar onde teme por sua vida, ou está financeiramente falido, então pode precisar de alguma ajuda para sair do estado de sofrimento só para ter a oportunidade de lutar. Mas, ao longo do tempo, dois elementos fundamentais tornam mais fácil prosperar em outras áreas. São eles a carreira (ou propósito) e o bem-estar social. O caminho para essa prosperidade é, muitas vezes, uma outra pessoa que está interessada e incentiva o desenvolvimento do indivíduo... um mentor ou líder em sua vida. As pessoas se desenvolvem em resposta a outras pessoas, quando há uma expectativa social e bons conselhos centrados no que a pessoa faz de melhor. Indivíduos prósperos encontram uma carreira ou propósito na vida, em que eles fazemo que sabem fazer melhor a cada dia. Entender e alavancar talentos naturais de cada pessoa e desenvolver os seus pontos fortes é muito importante.


Como falar e promover o bem-estar de uma comunidade que tem muitos problemas sociais e econômicos? Você não acha que colocar em evidência aspectos subjetivos a respeito de seu próprio conceito de bem-estar, e em seus pontos fortes, pode ajudar essas pessoas a encontrar soluções para seus problemas econômicos e sociais? (E, consequentemente, ajudá-los a aumentar o bem-estar?)

Quando as pessoas estão no centro dos problemas econômicos e sociais, torna-se fácil fixar-se nos problemas. E, sem dúvida, há problemas que precisam ser corrigidos. Uma abordagem baseada em pontos fortes envolve pensar sobre as oportunidades existentes e alavancar as forças para chegar a soluções para os problemas. Nós tivemos a oportunidade de estudar mudanças durante uma crise econômica e social. Ter um líder que ajuda as pessoas a pensar em oportunidades e desenvolvimento em meio à crise é fundamental, e muitas vezes é negligenciado.


Em geral, então, com quais ações poderíamos começar a aumentar o bem-estar na comunidade?

Como ocorre com todos os cinco elementos de bem-estar, há duas ações, uma básica e outra avançada, que se relacionam com um maior bem-estar. Na comunidade, viver em uma área previsivelmente segura é um fator básico. Necessidade de nível mais elevado seria viver em uma casa que é a ideal para a sua família. O mais elevado nível de bem-estar ocorre quando as pessoas estão envolvidas em ajudar a sua comunidade a melhorar, de forma que isso lhes dá satisfação pessoal. Pessoas que dizem ter recebido recentemente o reconhecimento por ajudar a melhorar a sua comunidade têm os mais altos níveis de bem-estar na comunidade. Então, a nossa recomendação geral é para todas as organizações (empresas, sem fins lucrativos, religiosas, etc.) dedicarem recursos para o envolvimento da comunidade. A maioria das pessoas vai se envolver, quando solicitado. A chave é ajudar as pessoas a saber como podem ajudar e alinhar essas oportunidades com os interesses individuais, missões e paixões.


No livro O Fator Bem-estar, é dito que o bem-estar financeiro significa manter as necessidades básicas satisfeitas e gastar dinheiro com experiências, e não coisas. Como poderíamos seguir esse conceito, em um mundo que as pessoas querem mais e mais coisas, influenciadas pela TV e outras mídias? Por meio da educação?

As coisas são importantes. Mas tendem a ter depreciado o seu valor ao longo do tempo... em muitos casos, financeiramente, e na maioria dos casos, psicologicamente. Experiências, por outro lado, têm valor crescente. Elas criam histórias que podem ser revividas por muitos anos vindouros. O que aprendemos com as pessoas que estão prosperando em bem-estar social e financeiro é que elas planejam suas experiências ( jantares, passeios sociais, férias etc.). Planejamento de experiências melhora o bem-estar de duas maneiras. Em primeiro lugar, torna-se mais provável que a experiência vá acontecer. Em segundo lugar, a antecipação da experiência pode aumentar o bem-estar, antes mesmo de ela acontecer, o que é um benefício adicional.


A solução global de bem-estar é individual ou institucional?

Todos os cinco elementos de bem-estar são acionáveis pelos indivíduos. Mas a melhor oportunidade de promovê-los está em uma intersecção entre indivíduo e instituição. Os indivíduos podem definir metas, individualizar suas ações, e acompanhar a sua melhoria. Mas as instituições podem fornecer recursos, definir padrões positivos que incentivam as pessoas a fazer o que é do seu interesse, além de definir uma expectativa social por meio de expectativas e comportamentos de liderança. A melhor oportunidade para a mudança é nesse cruzamento.


Existe algum relatório acessível que atualiza ou confirma essas informações?

Nós encorajamos você a visitar o nosso website, Gallup.com, onde há um fluxo constante de artigos sobre o bem-estar em todo o mundo.

(Entrevista realizada por mim para a revista Psique Ciência & Vida – Ed. Escala)

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